domingo, 4 de agosto de 2013

"Sophia, grazie mille!", por Carmem Toledo


por Carmem Toledo.

Quando admiramos muito alguém que escalou um monte alto e conseguiu chegar ao topo, tendemos a perceber tudo apenas de nosso ponto de vista. Visualizamos tudo de um vale e apenas olhamos para cima, vendo o herói vitorioso, que atingiu seu objetivo.



Esquecemo-nos do caminho árduo percorrido, dos riscos, acidentes e até mesmo os ferimentos adquiridos por ele; enxergamos apenas os louros frescos enfeitando sua cabeça. Também nos olvidamos de seu ponto de observação: assim como olhamos para aquele que está no topo, aquele que chegou ao ponto mais alto olha para os que estão nos vales que o circundam, assim como recorda de cada parte de seu duro trajeto.

Mas, do mesmo modo que existem aqueles que chegam ao topo e evitam olhar para baixo, temendo uma queda, há aqueles que se contentam em observar de baixo, temendo a subida. E piores são aqueles que olham para o vencedor como se este houvesse chegado ao topo através de um encanto, sem cansar suas pernas e esfolar suas mãos nas pedras.

Muitas vezes, é assim que agimos quando, além de tudo, duvidamos da humanidade do vencedor e nos colocamos enterrados no vale, diminuindo-nos ainda mais. É assim que deixamos de ver a mão estendida, pronta para nos amparar na escalada. É desta forma que deixamos de ouvir os gritos daquele que está no alto, chamando-nos e dizendo que também podemos!

Humildade é isso: estender a mão a quem está abaixo de nós e receber de quem está acima.
Não nos esqueçamos de que tudo é relativo e, em um giro do mundo, o que parece estar embaixo ocupa o lugar mais alto e vice versa.

Sophia:
Tantas vezes, olhei para ti como quem está no vale, esquecendo-me de que podias me ver e me ajudar a subir... Tua subida não foi fácil... Deve ser por isso que estás cada vez mais bela, a despeito da idade. Tu mesma disseste uma vez que o segredo para que se tenha olhos bonitos está nas lágrimas derramadas: "Se não choraste, os teus olhos não podem ser belos." Muitas vezes, chorei, esquecendo-me de que choraste muito mais...

Este ano, tomei coragem e enviei uma carta a ti; não esperava resposta.
Cheguei a imaginar que tu não terias tempo para lê-la, tampouco me mandaria as fotos autografadas que pedi e ainda menos uma dedicatória.

Sexta-feira, dia 2 de agosto, foi "Una Giornata Particolare", "Um Dia Muito Especial" para mim, pois recebi um presente. O carteiro entregou um envelope. Dentro dele, as fotos autografadas e a dedicatória que pedi na carta!

Sim, tu leste o que escrevi, em meu italiano simples de fã descrente.
Constatei que fui injusta ao não crer em ti. Tu, que já foste menina, que já ouviu muitas vezes "não" como resposta, sabe de minha existência, porque olhas para baixo e me estendes a mão com tuas palavras.

Talvez, meu erro esteja em não olhar antes para a montanha que escalaste.
Talvez, eu esteja errada em não notar que também a escalo, pelo meu caminho - pois cada um percorre o seu - e que posso não estar vendo que não estou mais no vale.

Tudo depende do ponto de vista. Quem olha para cima pode apenas ver os vencedores ou se lamentar por quanto falta para subir. Quem olha para baixo pode ter medo de cair ou estender a mão a quem está atrás. Mas quem olha para onde está vê a si mesmo e visualiza o quanto subiu e o que falta para terminar a escalada, podendo estender a mão com segurança a quem, talvez, não visualize bem a montanha.

Sophia, grazie mille!
Grazie per le tue parole e per mi fare vedere che sono una ragazza che anche può scalare la montagna.

Un bacio di una brasiliana che ti ama anche più ,
Carmem Toledo.


Imagem: Arquivo pessoal













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Autoria

O blog "Sophia... Ieri, Oggi, Domani" (sophiaierioggidomani.blogspot.com) é de autoria de Carmem Toledo. Está proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui publicado, inclusive dos disponibilizados através de links aqui presentes. A mesma observação se estende a todos os blogs e páginas da autora ("Culturofagia", "Voz Neurodiversa", "O Caminhante Solitário") e toda e qualquer criação, seja em forma de texto ou ilustração, por ela assinada.
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