terça-feira, 7 de novembro de 2017

40 anos sem Chaplin e 50 anos de "A Condessa de Hong Kong"


Charles Spencer Chaplin nos deixou no Natal de 1977. Diretor metódico, ator dono de uma expressividade ímpar, escritor e roteirista de profundidade sem igual e ícone da comédia, o gênio britânico dispôs sobre a cultura mundial um legado notável e atemporal, permanecendo como referência artística por várias gerações.  Em 2017, completam-se 40 anos de sua partida e 50 desde seu último filme (e primeiro em cores), "A Countess from Hong Kong" (A Condessa de Hong Kong).
Pensando nisso, resolvi prestar uma homenagem a este verdadeiro mestre do cinema, através de uma singela postagem que reúne algumas curiosidades sobre sua última participação na "sétima arte", que também contou com a presença de nossa musa, Sophia Loren!

Em sua autobiografia, Sophia descreve Chaplin como um diretor meticuloso, sempre atento aos mínimos detalhes, um homem elegante, franco, "um turbilhão de imaginação, um grande fabulador mergulhado em sua magia". O fascínio exercido por aquele que é considerado o maior artista cinematográfico de todos os tempos fica patente nas palavras de Sophia Loren, que quase não acreditou quando Chaplin lhe telefonou pela primeira vez, em 1965. No dia em que se conheceram pessoalmente, a atriz italiana chegou a ficar paralisada ao vê-lo entrar em sua casa! Com tamanha emoção, ela até mesmo o interrompeu bruscamente com um precipitado "sim!", tão logo o famoso diretor, produtor e roteirista começou a lhe falar sobre seu novo projeto. O texto que ele mal tivera tempo de lhe propor era "A Countess from Hong Kong", que havia escrito, originalmente, para sua ex-mulher - Paulette Goddard - e então adaptava para Loren. Aquele seria seu último filme, o primeiro que ele fazia em cores e que contou com uma breve participação sua, interpretando um velho camareiro de bordo.

A grande admiração e o respeito de Sophia Loren por Charles Chaplin ficam evidentes na escrita da atriz, que sequer ousou lhe pedir seu telefone naquele primeiro encontro! Em seu livro, ela diz que quase chegou a fazê-lo, mas "mordeu a língua", pois, de acordo com sua simples reflexão de admiradora, gênios não teriam endereço e telefone, já que morariam em algum lugar do mundo, vivendo apenas para torná-lo mais belo a cada dia. No entanto, ela sentiu que havia se criado uma espécie de intimidade entre eles. Mesmo assim, seu coração ainda batia forte sempre que o encontrava no set e iniciar qualquer conversação era difícil. Segundo Sophia, é inútil querer excluir a tensão em casos assim, pois "ninguém se habitua aos gênios".

Chaplin dirigindo Sophia Loren durante as filmagens de
"A Condessa de Hong Kong".
Fonte: Alfred Einsenstaedt / Getty Images.
A emoção de fazer parte de um trabalho de Charles Chaplin também é algo que "la attrice" faz questão de colocar em evidência. Creio que as palavras dela são as melhores para explicitar isso:
"Inútil dizer que trabalhar com Charlie Chaplin era o sonho de qualquer ator, em qualquer lugar do mundo. Era como ser chamado à Corte, ser convocado pelo rei, convidado a dançar pelo príncipe. Era o conto de fada dos contos de fadas, a plena realização de um ofício, de uma vocação, de uma carreira. Sob sua direção, eu recitaria até o catálogo telefônico." (Loren, Sophia. "Ontem, hoje e amanhã - A minha vida". Tradução de Eliana Aguiar. Editora BestSeller, Rio de Janeiro, 2014, p. 209. Mais informações sobre este livro podem ser lidas nesta postagem de 2015: clique aqui).
Mas nem tudo foram flores nas filmagens da "Condessa"... Sophia conta sobre o grande - e constrangedor - atraso de Marlon Brando no primeiro dia de trabalho. Depois de quarenta e cinco minutos, o ator chegou, aparentemente, sem se importar com sua falha. Foi severamente repreendido por Chaplin, que lhe disse, diante de toda a equipe, que deveria se retirar e nunca mais retornar àquele set, caso pretendesse seguir se comportando daquela maneira. Constrangido e finalmente consciente do que havia feito, Brando pediu desculpas e não repetiu aquele erro. Entretanto, cometeu outras faltas, como agarrar Sophia antes de uma cena, inesperadamente. Depois da grave censura de Loren, o norte-americano não voltou a se comportar daquela forma, mas, nas palavras da atriz, estava cada vez mais difícil trabalhar com ele, que parecia desencaixado, até mesmo deprimido e se alimentando apenas de sorvetes. Além dessas dificuldades, Chaplin também enfrentava períodos ruins que o impediam de filmar. Somente conseguiu retomar o trabalho com a ajuda de um paciente técnico e de sua então esposa, Oona.

Ainda assim, o filme também foi fonte de grandes alegrias, sobretudo para Sophia Loren, que recebeu de Chaplin o maior elogio de sua vida! Comovido, o mestre do cinema a comparou com uma orquestra que responde ao maestro. Foi também durante as filmagens que a atriz italiana recebeu seu mais importante e marcante ensinamento de seus 30 anos, quando Chaplin, com toda sua franqueza e sabedoria, orientou-a a aprender a dizer "não", a deixar de querer agradar a tudo e a todos.

Sophia traduziu, com grande sensibilidade, a experiência inesquecível de trabalhar com o grande Charles Chaplin, um diretor atento e exigente, que conseguia se dedicar a uma cena durante horas e, sempre que as explicava aos atores, ele próprio se tornava um deles, interpretando o texto e, nas palavras de Sophia, fazendo o mundo mudar de repente, bailando como um saltimbanco e fazendo Carlitos ressurgir diante de todos.

Carmem Toledo

http://culturofagicamente.blogspot.com




Autoria

O blog "Sophia... Ieri, Oggi, Domani" (sophiaierioggidomani.blogspot.com) é de autoria de Carmem Toledo. Está proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui publicado, inclusive dos disponibilizados através de links aqui presentes. A mesma observação se estende a todos os blogs e páginas da autora ("Culturofagia", "Voz Neurodiversa", "O Caminhante Solitário") e toda e qualquer criação, seja em forma de texto ou ilustração, por ela assinada.
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