segunda-feira, 21 de novembro de 2016

As joias da Loren e as joias da Castafiore


Desde o dia 28 de setembro deste ano até 15 de janeiro de 2017, o Grand Palais (Paris - França) recebe a Expo Hergé, uma exposição dedicada à carreira do cartunista belga Georges Prosper Remi (Hergé), internacionalmente reconhecido por seu perfeccionismo, sua constante atualização e seu estilo caracterizado pela "linha clara".
Algumas de suas obras mais conhecidas são as HQs "Les Aventures de Tintin" (As Aventuras de Tintim) e "Les Exploits de Quick et Flupke" (As Diabruras de Quick e Flupke). Tido por muitos como "o pai das histórias em quadrinhos europeias", Hergé é considerado um dos maiores artistas contemporâneos.

A exposição, que é organizada pela Réunion des musées nationaux - Grand Palais, em parceria com o Musée Hergé (Bélgica), traz muitos detalhes sobre a obra do cartunista, que já foi traduzida para vários idiomas e vendeu quase 250 milhões de álbuns. 

De acordo com informações de Simon Doyle (Tintinologist.org) - que me foram repassadas pelo blog brasileiro Tintim por Tintim -, uma curiosidade apresentada pela Expo Hergé é que uma das histórias da série "As Aventuras de Tintim" teria sido inspirada em um caso verídico que envolveu - adivinhem quem? - Sophia Loren!

Capa do álbum "Les Bijoux de la Castafiore",
da série de HQ "Les Aventures de Tintin", criada
pelo cartunista belga Hergé (Editions Casterman)
Nela, a cantora lírica Bianca Castafiore
aparece cantando ao lado de um piano, 
enquanto é filmada e assistida por várias pessoas.
Em primeiro plano, o protagonista Tintim faz
um gesto pedindo silêncio.

Trata-se do álbum "Les Bijoux de la Castafiore" (As Joias da Castafiore), publicado originalmente em 1963 pelas Editions Casterman (Bélgica). Nele, o protagonista - o jovem repórter Tintim - tenta solucionar o caso do sumiço das joias de Bianca Castafiore, uma glamurosa cantora lírica italiana que, volta e meia, aparece em suas histórias. Com muito suspense - e boas doses de humor -, Hergé mostra toda a confusão resultante de um "roubo", que, no final, é resolvido. 

Quem quiser ler o álbum todo pode encontrá-lo em várias livrarias e sebos. Recomendo vivamente, pois, além de fã de Sophia Loren, também sou "tintinófila" convicta e, sempre que posso, indico a obra de Hergé, que tem um valor inestimável não apenas como HQ ou esteticamente, mas principalmente como uma fonte de referências riquíssimas sobre fatos históricos e culturais.

Mas, se o caso das joias de Castafiore foi solucionado por nosso jovem herói, o mesmo não se deu com o fato real que o inspirou. 

Sophia Loren conta sobre o roubo de seus ornamentos em sua recente autobiografia, "Sophia Loren: Ieri, oggi, domani", publicada pela RCS Libri e editada no Brasil pela Editora BestSeller, com o título "Sophia Loren: Ontem, hoje e amanhã - A minha vida" e tradução de Eliana Aguiar (leiam a breve resenha que escrevi no ano passado, clicando aqui). 

Capa do livro
"Sophia Loren - Ontem, hoje e amanhã: a minha vida",
Editora Best Seller.
Nela, Sophia gargalha, com os cabelos presos.

Tudo aconteceu durante uma noite em um hotel na Inglaterra. Enquanto Sophia saía para buscar seu marido - o produtor Carlo Ponti - no aeroporto, o ladrão entrou em seu closet e levou suas joias. Assim que o casal chegou, Sophia notou que havia algo estranho, olhou ao redor e encontrou a gaveta da cômoda e a janela lateral abertas. Chamaram a Scotland Yard, mas nada pôde ser feito. O ladrão já estava muito longe dali e nunca foi preso.

Sophia mal dormiu naquela noite, pois se deixou tomar pelo desespero, chorando muito. No dia seguinte, durante uma pausa das filmagens de "The Millionairess" (filme de 1960, lançado no Brasil como "Com milhões e sem carinho"), o ator e diretor italiano Vittorio De Sica (que fazia parte do elenco) lhe disse algo que ela jamais esqueceria e lhe serviria como lição para toda vida: "Ouça bem, Sophi': nunca chore por algo que não possa chorar por você." 

Um detalhe curioso é que o ladrão lhe escreveu uma carta anos mais tarde (quando o crime já estava prescrito), assinando como "The Cat". Será que, se Hergé conhecesse esse final surpreendente que se deu na história real que o inspirou, ele teria introduzido algum elemento fazendo referência ao misterioso "The Cat"?

Outra curiosidade é que Bianca Castafiore e Sophia Loren tiveram seus "destinos" cruzados, mais uma vez, na dublagem brasileira: Quem dublou a personagem de Hergé na adaptação de sua obra para TV (a série animada produzida pela Nelvana e transmitida pela TV Cultura durante os anos 90) foi a atriz Geisa Vidal, que também dublou as falas em português da personagem Mamma Topolino (filme "Carros 2", 2011), que, originalmente, foi dublada pela atriz Sophia Loren (leiam mais sobre isso aqui).

É uma satisfação muito grande poder juntar duas paixões desta forma. Escrever sobre Sophia Loren e Tintim é algo que realmente me alegra, além de reforçar a importância desta grande atriz e da obra de Hergé.

Agradeço a Pedro Britto, autor do blog Tintim por Tintim, que me informou sobre esta curiosa inspiração do cartunista belga. 

Carmem Toledo





Autoria

O blog "Sophia... Ieri, Oggi, Domani" (sophiaierioggidomani.blogspot.com) é de autoria de Carmem Toledo. Está proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo aqui publicado, inclusive dos disponibilizados através de links aqui presentes. A mesma observação se estende a todos os blogs e páginas da autora ("Culturofagia", "Voz Neurodiversa", "O Caminhante Solitário") e toda e qualquer criação, seja em forma de texto ou ilustração, por ela assinada.
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